Dra. Aline Yuri Chibana, presidente da Fundação para Segurança do Paciente, traz ao 8º AnestEdu ações implementadas com sucesso no Hospital A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, onde é responsável pela Qualidade do Departamento de Anestesiologia
A suspensão de cirurgias por motivos clínicos caiu de 18% para 4% no Hospital A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, desde a implementação do ambulatório de Avaliação Pré-Anestésica (APA), segundo informou a Dra. Aline Yuri Chibana, em sua primeira apresentação no 8º AnestEdu. A médica anestesiologista, que é responsável pela Qualidade do Departamento de Anestesiologia do hospital e presidente da Fundação para Segurança do Paciente, informou que, com a APA, caiu também o tempo de permanência dos pacientes na UTI. Esses resultados se devem, é claro, à eficácia da avaliação pré-anestésica, comprovada por estudos: “o paciente bem preparado tem menos complicação”. Mas, e a Dra. Aline Chibana destacou esse ponto, esse passo em direção à excelência do hospital foi dado também pela competência do grupo de anestesistas que realiza as consultas. São pessoas específicas para realizar esse trabalho. “É um grupo de anestesistas com perfil para conversar com os pacientes, extrair o máximo de informações e otimizar a consulta”, contou. E um grupo que, de tanto realizar essa tarefa, tornou-se perito em realizá-la.
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Esse conceito – alocar pessoas no exercício pleno de funções para as quais sejam plenamente aptas, ou seja, pessoas certas nos lugares certos – pode ser aplicado à gestão hospitalar e à gestão de anestesiologia de várias formas, como exemplificou a Dra. Aline Chibana, criando grupos para avaliação pós-operatória de dor, anestesia ambulatorial (perfil de anestesista para anestesias curtas, diferentes de um centro cirúrgico), anestesia robótica, transplante hepático, alergia a látex (um grupo que conhece de cor os produtos que podem ou não entrar na sua sala), etc., como foi feito no departamento em que ela trabalha.
Ela explicou que pessoas especializadas, com atribuições tão internalizadas que as realizam de forma quase automática, respondem melhor à sobrecarga cognitiva, isto é, ao excesso de informações. “Com a sobrecarga cognitiva, ultrapassamos o limite de lidar com as informações e começamos a tomar decisões ruins ou tardias”, disse. E excesso de informações é bastante comum no dia a dia de profissionais de saúde e anestesistas em hospitais, situações como cirurgias, em que complicações podem surgir.
Além disso, a atuação do anestesista não começa e não termina no procedimento anestésico. “O anestesista atua desde o pré-operatório, na avaliação adequada do paciente (o que vai influenciar nas complicações), no intraoperatório, na recuperação anestésica e até em desfechos de longo prazo”, disse. “Além disso, nosso papel não apenas se expandiu, mas vai mudar. Deixamos de ser autônomos. Os grupos, hoje, comportam-se de modo empresarial.”
E foi na gestão empresarial, no livro Empresas Feitas para Vencer, de Jim Collins, que a Dra. Aline Chibana buscou inspiração para trazer alguns conceitos, como o das pessoas certas nos lugares certos para que a organização tenha sucesso, e aplicá-los com êxito na gestão de anestesiologia: “Uma característica de empresas que deram um salto de qualidade e passaram de boas a excelentes, de acordo com o livro, é que primeiro colocaram as pessoas certas no barco e depois definiram o rumo. Primeiro vêm as pessoas, e a locação dessas pessoas em posições estratégicas é extremamente importante”.
Habilidades não técnicas podem ser adquiridas com disciplina
Caso as pessoas certas não tenham sido embarcadas em um hospital em busca da excelência, não há motivo para pânico, pois, se uma cultura de disciplina for implementada, as pessoas já embarcadas ou irão se adaptar e se tornar as pessoas certas ou sairão, dando espaço a novas pessoas que irão se adaptar.
Dentro de uma cultura de disciplina, compreende-se que pequenas atitudes, unidas, levam a grandes resultados. Para implementá-la na anestesia é preciso conhecer bem o serviço, o que só ocorre com acompanhamento de dados, informações. “Se você não sabe onde seu serviço falha, não há como agir. Isso é gerenciamento de risco. Coletando dados, você sabe qual é o perfil do seu paciente, qual é a porcentagem dos eventos adversos.”
Foi coletando dados que o departamento coordenado pela Dra. Aline Chibana no Hospital A. C. Camargo Cancer Center se deu conta, em 2013, de que eventos adversos ocorriam principalmente com aparelho cardiovascular e vias aéreas. A constatação levou a um novo protocolo de monitorização que trouxe resultados muito positivos nos desfechos. “Essas transformações acontecem quando se estabelece uma nova cultura e todos da empresa entendem que precisam trabalhar por um bem maior. Isso é gestão”, declarou.
Habilidades não técnicas e tecnologia para levar seu hospital à excelência
Outro conceito elencado pelo livro Empresas Feitas para Vencer e que a Dra. Aline Chibana adaptou para a gestão de anestesiologia no caminho de levar o hospital à excelência é que a tecnologia pode acelerar o processo de melhoria de uma empresa, mas o que realmente fará diferença será, mais uma vez, as pessoas. Mesmo com todas as tecnologias que já estão presentes e as previsões de tecnologias dominantes, ainda são as pessoas que usam as máquinas. Ou escolhem não usar.
Ela citou o exemplo de um estudo, de 2016, realizado um grande hospital (40 mil cirurgias por ano, 68 salas de cirurgia) que usava uma máquina eficaz de identificação de medicamento. Ao passar a ampola do medicamento pela máquina, ela emite a etiqueta para identificar a seringa e até fala qual é o medicamento e em qual concentração está. Ainda assim, quando o estudo colheu os dados de 277 cirurgias, constatou que em 50% ocorreram erros de medicação ou eventos adversos relacionados a medicação. “Evento adverso relacionado a medicação nem sempre é erro”, lembrou.
De todos os eventos observados no estudo, 36% foram erros de medicação com potencial de dano significante ou grave e de óbito para o paciente. Apenas menos de 6% foram detidos antes da ocorrência, ou seja, o anestesista se deu conta antes de fazer a administração da droga. Os maiores erros ocorreram em cirurgias de longa duração, que exigem mais atenção do anestesista, e acontece um erro a cada 20 administrações. “Não é um erro a cada 20 anestesias, um erro a cada 20 dias, mas um erro a cada 20 administrações. É muito, mas é um número compatível com a realidade”, afirmou a Dra. Aline Chibana.
O mais notável em relação à disponibilidade da máquina de identificação de medicamento é que o estudo demonstrou que o erro mais frequente foi de identificação da seringa. A constatação é que nem todos os anestesistas estavam usando a máquina: fator humano. “Você pode levar essa máquina para dentro do seu hospital, mas, se não mudar a cultura de segurança, não vai adiantar, será dinheiro desperdiçado. Primeiro, é preciso trabalhar com as pessoas e então pensar em tecnologia.”
Ao blog do AnestEdu, a Dra. Aline Chibana esclareceu que, quando falamos de fatores humanos, estamos falando sobre a nossa falibilidade – distrações, vieses cognitivos, fadiga, burnout – e a necessidade de construir sistemas a prova disso. “Habilidades não técnicas envolvem trabalho em equipe, empatia, comunicação e assumir responsabilidade por seus atos. Isso inclui admitirmos que somos humanos propensos a falhas e, portanto, que precisamos assumir a responsabilidade de adotar protocolos de segurança por entendermos que são mecanismos de proteção importantes. Creio que, quando deixamos de usar a máquina que identifica a seringa, falta um pouco dessa consciência.”
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